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domingo, 22 de fevereiro de 2015

Lila... Lilas... Lilás...

Nada de construtivo nasce do ódio, do medo e da raiva...  Uma sociedade que apresenta todos esses sintomas é uma sociedade doente;  UTI a espera.

No presente vejo o resultado de uma
sociedade que cresceu na desarmonia, semeada na divisão, exclusão social e preconceito.

Uma sociedade cercada pelo medo da violência que a ronda como fantasma a trazer a insegurança ... Violência colhida como fruto do que foi semeado. Os mesmos que tanto a temem e cobram o seu fim, são os que a regam e dão guarita, dentro de si.

Não consigo pensar nisso, sem lembrar que no ano passado uma mulher foi linchada devido mentiras virtuais, espalhadas para alimentar esse medo. Foi arrastada e sem defesa arrebentada em plena rua. Não foram alguns homens impiedosos que a mataram, esses foram fantoches dessa sociedade covarde e hipócrita, sua assassina.

Todo dia pessoas são massacradas, levadas ao tribunal das calúnias e pisoteadas por um bando de “bons cidadãos” tementes a Deus, cheios de uma moral cheirando a mofo e carregados de um ódio que beira a insanidade. São jogos de interesse onde a justiça é o que menos conta. 

Falam de corrupção e justiça, sem perceberem as sujeiras de suas  mãos. Outros, já cegos pelo medo, são guiados como uma manada... Nada conhecem daquilo que falam. Reclamam sem saber a fundamentação do que dizem. Falam de justiça enquanto enterram qualquer possibilidade de que ela, a justiça, sobreviva.

Minha única certeza é que em terra onde prevalece o "dente por dente e olho por olho", ao final sobram apenas cegos banguelas. 

Contra tudo isso, nem sei se adiantam palavras... Talvez, só  a oração, um exercício de imaginação criativa... Um esforço sobre-humano para projetar o oposto dessas atitudes tão degenerativas... Estimulando a delicadeza, o encantamento do belo, do suave, da alegria, da esperança... Uma energia que renove as células tão ácidas e deformadas... Tão doentes... Talvez... Talvez...Um contágio massivo de Lila...Muitas Lilas... Lilás...

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

No Brasil as grandes empresas de comunicação estão se enforcando com a própria corda.

Tenho ouvido falar na crise das grandes empresas de comunicação do Brasil e apesar das especulações e outros interesses que possam estar relacionadas com esse falatório, não me espanta por ser esse fato previsível e esperado.

Em 1993, li o "Decálogo do jornalismo do amanhã", escrito por um acadêmico espanhol, Juan Antonio Giner, na época presidente da Inovación Periodistica, Consultores na Espanha. Esse pequeno texto de uma lauda, mudou minhas expectativas sobre os meios de comunicação social e sobre o jornalismo do futuro.

O decálogo traçava um caminho a ser seguido pelas empresas de comunicação, caso quisessem sobreviver às vertiginosas mudanças tecnológicas que estavam por vir, visto que nada se daria na velocidade a qual estavam acostumadas. Segundo Giner, os diretores teriam que “reinventar o futuro” a cada dia.

Esse alerta para as empresas se adaptarem aos novos tempos foi dado como  uma necessidade imediata, isso há 22 anos, visto que esses  novos meios de comunicação que chegavam com a revolução digital, transformaria a nossa sociedade, assim como fez a máquina Gutemberg em 1445.

Na época em que esse texto apareceu em minhas mãos, estava no 1º ano de jornalismo e seu impacto foi tão forte que durante a minha formação busquei entender esse processo de transformação do qual eu fazia parte. Foi assim, que me dediquei  a um projeto chamado Online UNISANTA, considerado o primeiro jornal do gênero a ser produzido em uma universidade brasileira. Esse projeto na época era extracurricular, elaborado nas tardes de sábado por alunos voluntários e apesar de ser um jornal virtual, tinha como coordenador um Professor de Antropologia, o Darrell Champlin.

Nossa proposta não era adaptar o Online para ser um espelho digital de um jornal impresso, mas trabalhar as possibilidades desse novo meio e encontrar a sua linguagem. Tudo era uma incrível novidade, uma folha em branco onde as possibilidades eram infinitas, inclusive a interação com o leitor, com as fontes e com aquilo que se chamava hiperlink. Meu TCC também foi baseado nessa nova linguagem e nas perspectivas desse jornalismo.

Porém, sem prolongar a história, com o destino que o Jornal Online tomou em 1997, percebi o quanto esse novo meio e o alerta de Giner, não estava sendo entendido e nem levado a sério tanto pelo meio acadêmico quanto pelas empresas informativas, já que um deveria alimentar o outro.

Quando o meio acadêmico aprisiona um laboratório de ideias dentro de uma grade curricular, onde se obriga a participação e pior, se dá nota para algo que não tem como medir, está sendo dada a pena de morte a criatividade e ao projeto. O que demonstrou a falta de entendimento das inovações que estavam a sua frente. Foi com muita tristeza que vi isso acontecer e sabia que o Online UNISANTA estava com os dias contados, seria apenas uma questão de tempo. Ao tirarem sua alma, enterrar seu corpo seria apenas um detalhe.

Assim também vejo acontecer com as grandes empresas jornalísticas. Elas estão com os dias contados por sua própria incompetência em adaptar-se ao novo.

No Décimo decálogo, Giner diz que:

“Só terão futuro aquelas empresas que aplicam em investigação e desenvolvimento, ‘Não serão os grandes que comerão os pequenos, serão os rápidos que comerão os lentos’. Em tempos de crise, ‘deve-se pensar internacionalmente, pensar futuristamente, pensar antes que os outros”.

Essas empresas cresceram servindo a  um aglomerado de interesse que extrapolavam a sua missão Informativa. O poder econômico e político ao qual estão alicerçadas a tornaram pesadas em demasia para a agilidade necessária aos novos tempos. 

Não conseguem se reinventar e por isso mesmo irão morrer. A alternativa é continuarem sendo sustentadas pelo Poder Público, por isso o seu desespero atual. Se mesmo assim continuarem enquanto corporações, serão Assessorias de Imprensa disfarçadas. O que seria da mesma forma a sua morte.

Por isso, se uma delas falir, não jogue mais esta culpa na Dilma. Elas estão apenas se enforcando com a própria corda.

Deixo abaixo o “Decálogo do Jornalismo de Amanhã”, apesar de antigo é muito atual. Cada item pode render uma tese, pois nesses últimos 22 anos a mudança foi gritante e cada um desses itens estão em pleno andamento, confirmando o acerto de sua análise. As mudanças continuam e como advertia Giner,  de forma vertiginosa.





O DECÁLOGO DO JORNALISMO DE AMANHÃ
Por Juan Antonio Giner
Ano de 1993

As empresas informativas devem se acostumar a conviver sob a “vertigem das mudanças tecnológicas” e seus diretores têm de “reinventar o futuro” a cada dia. Estas dez megatendências da Inovación Periodistica supõe um novo mapa para os negócios da informação, no qual:

  1. Os jornais se converterão em “revistas diárias de notícias”, e os semanários só sobreviverão caso se transformem em revistas de “jornalismo de antecipação”.
  2. Os jornais, as revistas e a televisão deixarão de financiar-se pela via publicitária. O público pagará pela informação de qualidade ao preço do custo real.
  3. As empresas de cabo se parecerão cada vez mais com as companhias telefônicas. Os sinais de televisão chegarão por terra (cabo) e os de telefone pelo ar (satélite). Vão se aliar com as telecomunicações.
  4. Todos os meios serão “multimídias”. Não já sentido em falar de meios impressos e/ou audiovisuais, pois todos serão eletrônicos.
  5. Os caixas automáticos dos bancos serão as novas bancas de jornal, e a imprensa será enviada a domicílio por via eletrônica. A distribuição física deixará de ser rentável.
  6. Chegaremos à personalização das mensagens jornalísticas e publicitárias. Os meios e as mensagens pra todos são os meios e as mensagens para ninguém. A fragmentação das audiências anuncia a morte dos “mass media” e o nascimento das “micromedia”. O futuro se chama Data-Base Jounalisn e Data-Base Marketing.
  7. Redações e gerências devem falar a mesma língua. Precisamos de jornalistas que entendam de negócios e gerentes que entendam de jornalismo. O primeiro “dever ético” de uma empresa informativa é ganhar dinheiro.
  8. O jornalista de qualidade será um profissional raro. É preciso reconstruir as empresas informativas ao redor do “núcleo duto” das redações. Não se pode fazer jornalismo sem jornalistas. Diante do “jornalismo light” o futuro se chama: informação, informação: ideias, ideias.
  9. As antigas empresas jornalísticas se converterão em novas “refinarias informativas”, e a tecnologia deixará de ser uma “vantagem competitiva”. Os meios se diferenciarão somente por sua própria “octagem informativa”.
  10. Só terão futuro aquelas empresas que aplicam em investigação e desenvolvimento. “Não serão os grandes que comerão os pequenos, serão os rápidos que comerão os lentos”. Em tempos de crise, “deve-se pensar internacionalmente, pensar futurísticamente, pensar antes que os outros”.

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Juan Antônio Giner é Presidente da Inovación Periodistica, Consutores, na Espanha, membro do Comitê sobre o Futuro dos Jornais da American Spciety of Newspaper Editors e research fellow do Canter Information Policy Research da Universidade de Harvard.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Pequena viagem sobre histórias dos rios da cidade de São Paulo



Recentemente esteve na cidade de São Paulo a diretora do programa Water inthe West, Newsha Ajami, também pesquisadora da Universidade de Stanfor, na Califórnia.  Segundo comentários e notas da imprensa, ela ficou espantada  quando viu um  enorme e caudaloso Rio, o Tietê, cortando uma cidade que está no meio de uma crise hídrica.

Rio Pinheiros, uma imagem que mostra a sinuosidade dos rios da Capital
Esse olhar estrangeiro de admiração sobre as águas do rio, deve ter sido igual aos dos padres Jesuítas  ao verem pela primeira vez os rios que serpenteavam essas terras, só que por motivo inverso, pois ali viam uma incrível fonte de vida..

 Há quem desconheça que a  cidade de São Paulo já teve sobrenome: Piratininga.  Nome esse que em Tupi Guarani significa peixe seco (Pira=peixe e tininga=seco).

Verdade!!! Porém,  não estavam secos devido a  falta de água,  ao contrário,  era por sua abundância. Naqueles tempos quando transbordavam,  os rios paulistanos avançavam  por uma grande área e ao voltarem para seus leitos deixavam enormes quantidades de peixes pelas várzeas.  Segundo o padre José de Anchieta, até 12 mil peixes ficavam encalhados e a secar ao sol.  Fico imaginando que os índios colhiam peixes ao invés de pesca-los, além de tornar mais fácil a caça de outras presas que igualmente iam aproveitar dessa colheita.

Por este motivo a região onde fica a capital paulista sempre foi cobiçada por suas águas limpas e alimentos fartos,  tanto que eram cinco aldeias indígenas que ali viviam quando chegaram os portugueses, que pelos mesmos motivos resolveram ficar por lá.
Mas não era só de Tietê, esse que vemos ainda como rio, que vivia São Paulo. Haviam outros grandes rios, como o Ipiranga e o Rio Piratininga, o que deu sobrenome a antiga São Paulo e depois  foi rebatizado como Rio Tamanduateí; tamanduá grande. O motivo dessa troca? É que justamente por ficarem aqueles milhares de peixes a secarem ao sol,  apareciam milhões de formigas... Prato dos tamanduás que viviam aos montes por aquelas matas.

Assim, esses rios proporcionaram uma cadeia alimentar que nos fez chegar na São Paulo de hoje: milhares de peixes atraiam milhões de formigas que atraiam centenas de tamanduás e toda a facilidade e riqueza ali existentes atraíram centenas, depois milhares e milhões de seres humanos, que agora passam com seus carros por cima desses rios e de todos os seus afluentes, escondidos embaixo da terra entre canos e asfaltos.
Uma vista do Rio Tamanduateí

 
Hoje o Tamanuateí está mais para tatu do que tamanduá. Pouco do que não está encoberto nem é percebido como um rio, mas como um feio canal ao lado do mercado municipal. E pensar que ele já beirou a Rua 25 de Março! Quem é que nunca se perguntou por que aquela ladeira que desce a 25 se chama porto, se ali não tem mar ou mesmo rio? Sim, ali era um Porto Geral de onde saiam pequenas embarcações que cobriam várias áreas da cidade.
 
Rio Tamanduadei entre a Ladeira Porto Geral
 O que aconteceu para tanta mudança?

 A presença de tantos rios que foi o motivo da existência da cidade, quando passou a atrair milhares de seres humanos e não mais os tamanduás, transformou-se em um obstáculo para aquilo que se chama progresso.  Os rios tiveram que ceder espaço para o tal desenvolvimento urbano.

“Não temos alternativas”, diziam alguns, como dizem ainda hoje.  O que poucos sabem é que São Paulo tem e teve alternativas, inclusive uma que poderia tê-la transformado em uma bela e linda cidade cheia de rios, parques  e com uma rede de transportes urbanos iguais ou até melhores que as de muitas capitais europeias.

Vista da Várzea do Carmo

Porém, a uma certa altura de sua história optou por  privilegiar o automóvel, que se transformou na palavra chave da modernização. O marco para essa opção aconteceu na década de 20, quando na Politécnica se travou uma disputa de ideias sobre o destino dos rios e do sistema viário da Capital.

Projeto de Saturnino de Brito
De um lado estava Saturnino de Brito, então Presidente da Comissão de melhoramento do Rio Tietê criada por lei municipal em 1923, com a tarefa de desenvolver mais um projeto para o rio. Até hoje esse projeto de  Saturnino é visto como uma obra de arte entre todos os projetos para o Rio Tietê.  
O Rio Tietê era utilizado para o lazer do paulistano
 
Ele garantia a integridade de seu leito maior e da  várzea maior, na  confluência deveria ser formado um lago, como o Ibirapuera, que seria o coração de um núcleo aquático da formação de parque.
O Tietê perderia 20 km em cumprimento e formaria  dois lagos. Saturnino eliminou a necessidade dos diques, optando por canais de dois tipos que dariam conta de escoar as águas. Em Mogi das Cruzes, seria construída uma represa para regularizar o escoamento, além de outras represas menores nos afluentes e de quatro eclusas para facilitar a navegação. Até uma ilha fazia parte do Projeto, que ficaria nas imediações da Ponte Grande e toda a sua várzea ganharia um parque linear.

O pensamento de Saturnino era de longo prazo,  visto estar em seu projeto uma visão viária urbana, tendo a hidrovia, a ferrovia e as avenidas como metas possíveis, ao mesmo tempo em que a cidade poderia aproveitar o que tinha de mais belo.


Inundação na Várzea do Carmo - hoje Parque Don Pedro II
 

Rio Itororó 1942 - hoje Avenida 23 de maio.
Só que do outro lado estavam os Engenheiros Prestes Maia e Ulhôa Cintra, com o plano  do sistema radial concêntrico de avenidas. O discurso deles caia como luva no sonho da elite paulista, que naquela época via como imagem de progresso as novas cidades americanas, cheias de prédios altos adornando largas avenidas, por onde passavam seus automóveis, símbolo de modernidade. Muito diferente daquelas imagens de mato e água em plena cidade, que no pensamentos deles poderiam ficar nas fazendas, onde tinham serventia, mas não na cidade.

Assim, a dupla falou a língua que os barões queriam ouvir e conseguiram vender a ideia. Claro que eles não  avisaram aos barões que em outros lugares admirados por eles, esse sistema só foi implantado depois que os anéis ferroviários já estavam em funcionamento e antes desses, os anéis  hidroviários. Era só queimar essas duas etapas e tudo bem, os carrinhos passariam logo sem problemas pelas belas e progressistas avenidas. A nova imagem de São Paulo.
 
Alagamento na 23 de Maio
Afinal, como ouvi no documentário que inspirou essa postagem, “Entre rios”, e que deixarei ao final, eles não estavam interessados em vender trens ou barcos e sim carros.
 
Para complicar, quando Prestes Maia foi nomeado Prefeito da cidade de São Paulo, em 1938, pelo interventor Ademar de Barros, pode facilmente colocar seu plano em ação. A forma que encontrou  para baratear os custos foi aproveitar  os fundos de vales, áreas dos rios e córregos, áreas úmidas e alagadiças, o que foi seguido por outros, para a construção de avenidas como a 23 de maio, marginais Pinheiro e Tiete, Nove de Julho, av. do Estado. Ou seja, onde passavam as águas passariam os automóveis.



“Podemos mudar os cursos dos rios, mas não podemos mudar a sua natureza” e hoje pagamos um preço caro por essas escolhas e  as consequências nos batem à porta.

Por ironia, a cidade que cresceu devido a sua riqueza hidrica, hoje vive o drama de uma crise hidrica. Sobra água para as enchentes e falta água nas torneiras. Será que aprenderemos essa lição? Pelas escolhas que os paulistanos andam fazendo, acredito que não.





Aqui há um mapa com os rios invisíveis de São Paulo.
Clique o mapa para vê-lo em tamanho maior.




Deixo abaixo o documentário de onde peguei muitos dados desse texto. 
Um documentário que todos deveriam assistir... Entre Rios - A Urbanização de São Paulo